segunda-feira, 20 de agosto de 2007

pecados inconfessáveis


Room Service 
©
Gonçalo Sítima
(2008)


Habituei-me a ter-te aqui, nesta preguiça eterna que se arrasta lentamente, como é desejável. Os lençóis da cama e as almofadas do sofá adaptaram-se às formas dos nossos corpos atirados, tal é o peso da lassidão. Aguardam-nos mais sessões cinematográficas, mais delírios de carne e de sangue. Aguardo-te eu, de punhais escondidos nas mangas das camisolas demasiado compridas, que fui acumulando no fundo do quarto. Iremos saborear maki-sushi e sashimi. Pequenos pecados nipónicos envoltos em auras exóticas. Eróticas. Iremos apertar o arroz nas nossas mãos e montar cada pedaço do nosso papel de cenário, em tons de algas secas.

Queres que prenda o cabelo, da forma que gostavas de me ter ensinado? Queres que me cubra com o vestido de tule e calce os sapatinhos de bailarina? Depois montamos o tripé, acendemos a luz e deixamo-la penetrar o obturador. E fingimos que estamos vivos, escondendo as chagas e os punhais de sangue.




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