quinta-feira, 30 de agosto de 2007

auto-intitulado


auto-retrato
© Sílvia Dias
(2007)



Se não pretendes permanecer até ao fim dos teus dias, não me persigas.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

destroços em vidro martelado


A Face Oculta
© Sílvia Dias
(2004)


Os destroços de uma vivência de anos são facilmente perceptíveis.

[...]

Neste chão de vidro martelado podemos espalhar as mágoas acumuladas durante todos estes anos. Podemos escrever novas promessas eternas, daquele
Amor que aprendemos com Antero, com massa de contorno negra. E criar borrões coloridos com as tintas que deixámos esquecidas num tempo onde era tudo mais fácil, mas aparentemente difícil. Faltava-nos a experiência das sucessivas quedas. Daqui para a frente contamos apenas connosco para regressarmos à posição inicial. Cada uma por si. Já sei que não me vais estender a mão, porque nem sequer me verás cair. Não te será permitido, faz parte das regras. Devias ter lido todas as entrelinhas do acordo que fomos estabelecendo ao longo dos anos. Sete. Mas eu vou sentir a tua falta em todos os álbuns de fotografias, em todos os pedaços de papel que guardam as tuas palavras dedicadas.

Desisto de ti no momento em que me fizeres sinal.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

pecados inconfessáveis


Room Service 
©
Gonçalo Sítima
(2008)


Habituei-me a ter-te aqui, nesta preguiça eterna que se arrasta lentamente, como é desejável. Os lençóis da cama e as almofadas do sofá adaptaram-se às formas dos nossos corpos atirados, tal é o peso da lassidão. Aguardam-nos mais sessões cinematográficas, mais delírios de carne e de sangue. Aguardo-te eu, de punhais escondidos nas mangas das camisolas demasiado compridas, que fui acumulando no fundo do quarto. Iremos saborear maki-sushi e sashimi. Pequenos pecados nipónicos envoltos em auras exóticas. Eróticas. Iremos apertar o arroz nas nossas mãos e montar cada pedaço do nosso papel de cenário, em tons de algas secas.

Queres que prenda o cabelo, da forma que gostavas de me ter ensinado? Queres que me cubra com o vestido de tule e calce os sapatinhos de bailarina? Depois montamos o tripé, acendemos a luz e deixamo-la penetrar o obturador. E fingimos que estamos vivos, escondendo as chagas e os punhais de sangue.