domingo, 26 de outubro de 2008

latência


sem título
© Sílvia Dias
(2008)


Vi-te ontem, por volta desta hora. Há quanto tempo não te via? Perdi a conta aos dias, aos meses. Morreste-me pela noite. Estava frio, tanto frio. Estivemos a escassos metros de distância. Próximo, tão próximo, que quase te podia tocar, não fosse o vidro da janela. E era apenas esse vidro que nos separava. Num início de noite estranhamente quente, estivemos lado a lado, mas tu não reparaste na minha presença. 

Pareces-me bem. O cabelo mais curto fica-te bem, alegra-te o rosto. Mudaste de óculos também. Que diferenças notarias tu em mim, se tivesses olhado em volta por um momento? Pareceu-me ver cansaço no teu rosto e tento imaginar como tens ocupado os teus dias. A verdade é que te nego a todo o instante, mas sinto falta de quem eras. E do que eras em mim. 

Deixa-me dormir.