domingo, 11 de maio de 2008

solilóquio


em flor
© Sílvia Dias
(2006)



Gostava de dizer que te amo devagarinho, com a intensidade das primeiras vezes, num suspiro sussurrado junto ao lóbulo da tua orelha. Gostava de ter dedos para enlaçar nos teus, mas não me vejo digna de tal proeza.

Senta-te comigo na berma daquela estrada onde já não passamos mais. Vais espirrar muito – é Primavera e as cerejeiras em flor só são bonitas em postais, dir-me-ás. E depois sorrimos muito enquanto me passas o braço pelos ombros e me abraças com força.

Tens medo que não seja real?
Às vezes receio a afirmação.







sábado, 22 de março de 2008

é sempre o tempo


Identificação
© Sílvia Dias
(2007)



Não posso sentar-me aqui muitas mais vezes. Se repousar as mãos sobre a secretária, o meu rasto ficará marcado no pó que não é limpo há meses. Onde tens estado? Eu não durmo, juro-te que não durmo, porque não chegas. Fico apenas aqui, sentada, à espera. À espera. Estou prestes a levantar-me, sabes. Amanhã já não estarei aqui, ou pelo menos assim o espero. Quero fechar os olhos e descansar. Tenho a cama feita, com lençóis escrupulosamente limpos e engomados, em que nenhum corpo ainda tocou. Mas não me posso demorar mais. Mais uns minutos e todos ignorarão a minha existência. É da hora. Chega a um ponto em que todos nos ignoram, se ficarmos muito tempo na mesma posição. Passamos a ser silhuetas, daquelas boas de se fotografar. Pensando bem, já que nunca tinha pensado nisto, até nem era má ideia. Mais a mais, já é hábito, era só uma questão de reconversão. Amanhã posso ser outra pessoa. Vou ter novamente os cabelos longos, como quando me conheceste, e vou fotografá-los sempre molhados. Depois aproximo-me sorrateiramente e sento-me aos teus pés, de costas para ti, para que me possas pentear, com os dedos. Talvez assim te mantenhas por perto durante mais tempo.

Já reparaste como o tema é recorrente? É o tempo, é sempre o tempo.


terça-feira, 18 de março de 2008

da idade adulta, 1ª parte.


Corredores 
© Sílvia Dias
(2008)



Naquele dia que ainda não recordas, abrirás a mente pela última vez. E cederás finalmente à cadência crescente do corpo que ainda não tens.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

entre aspas #1


permanece.
© Sílvia Dias
(2006)



I saw it coming I just thought that you should know I'm feeling better every day I'm only waiting if you stay so don't feel bad Your faith was an illusion and you're as loyal as your faith will let you be Your expectation, it's not hard to live without I'm feeling better every day Emptiness still leaves a space

Stay Golden, Au Revoir Simone




P e r m a n e c e.  



 

domingo, 18 de novembro de 2007

adolescente


sem título
© Sílvia Dias
(2006)


Eu nunca te amei, porque não pude. E tu sempre me amaste, sem querer.